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Lua na via combusta

  • Foto do escritor: Patrícia Helena Dorileo
    Patrícia Helena Dorileo
  • 29 de set. de 2023
  • 2 min de leitura

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Quando a Lua transita entre os 15 graus finais da Libra e os 15 primeiros do Escorpião, anda por um perímetro chamado de via combusta. O trecho é árido e tórrido, explosivo. Geral fica desconfortável neste raio zodiacal, mas a Lua é particularmente debilitada. Nestes signos, os luminares tem queda, além de dignificarem a Marte e Saturno, os maléficos. Não há razão para amedrontar-se com estes termos, ainda que em astrologia horária, essa posição signifique mau presságio, mau julgamento ou algo prestes à destruição – daí, não se recomenda começar nada nos momento em que Ela, A corporificadora, estiver nestes graus.


Fato é que uma Lua na via combusta reserva algo de oculto, invisível, desaparecido. Como se tivéssemos uma não tão breve visita ao reino de Osíris, o vasto submundo de Duat, onde mergulhamos nas águas do abismo primordial. Uma vez por mês, acessamos este ambiente inabitado pela luz dentro de nós mesmos, afim de justamente oferecê-la.


São momentos de peregrinação lunar em que mesmo sob cenários aparente belos, encantadores, há uma provocação íntima perfuradora. Conecta-se involuntariamente um espaço de vazio, impotência, solidão, da quase insignificância conscientizada, tudo tão angustiante quanto sintético e ilusório.


Aqui, a Lua cruza com a estrela Princeps, quem pode despertar descontentamentos e medos mais pelo temor do que pela materialidade apresentada pelas circunstâncias. É ela também que proporciona inigualável sutileza ao pensamento: é preciso permitir sutilizá-lo a qualquer momento, mas em especial neste trajeto lunar. Perceber com a alma o que se manifesta em sentires. Essa delicada abertura à profundidade é a autorização à penetração de algo indispensável para a Lua sair de sua queda escorpiana: a fé. Ela que, vez ou outra, exige-nos andar em brasas emocionais.


Thomas Merton, escritor-monge, não tem nada na via combusta natal, porém inspirou em escritos sobre a contemplação, ato importante nesse escorregador entre Libra e Escorpião; como ao escrever que “foram para o deserto não para estudar a verdade especulativa, mas para lutar contra o mal prático; não para aperfeiçoar sua inteligência analítica, mas para purificar seus corações”.

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