A estrela-fixa Algol: a cabeça da Medusa
- Patrícia Helena Dorileo
- 4 de mar.
- 6 min de leitura

Os astrólogos antigos ensinam há longuíssima data, mais de 5 mil anos, que Algol é a mais maléfica das estrelas-fixas. A grande maioria delas todas, que são centenas, tem dura natureza. Ela está localizada atualmente a 26 graus do signo de Touro e narra o mito da Medusa, aquela que fora sacerdotisa, depois violentada por Perseu, sofreu julgamentos injustos para manter a ordem machista e patriarcal imposta por Poseidon, e por isso foi transformada em górgona de olhos petrificadores e cabelos de serpentes. Na Astrologia, que é uma linguagem simbólica, cabe uma vastidão de interpretações e significados sobre o mito e a estrela.
Estrelas-fixas precisam ser ativadas por astros (ou ângulos, num mapa astral) para que seus simbolismos sejam propriamente observados. Sempre que esta a qual refiro neste texto aparece, seja num contexto de trânsito ou de leitura de mapa astral, um pânico se instala.
o mito
Há muitas, muitas versões a respeito da história mitológica de Perseu e Medusa. Uma delas é que Polidecto, o rei tirano da ilha de Sérifo, convidou vários amigos para um jantar, incluindo Perseu, filho de Poseidon. No encontro, o rei perguntou qual presente os amigos-súditos lhe ofereceriam, o qual foi respondido que apenas um cavalo seria um digno presente. Perseu respondeu, no entanto, que se Polidecto desejasse, ele lhe traria a cabeça da Medusa.
Medusa, por sua vez, era uma das três irmãs górgonas. Era uma linda mulher que foi amaldiçoada por Minerva (ou Atena), como punição por ela ter se deitado com Poseidon. Um parênteses: existe a versão mitológica de que Medusa foi estuprada por Poseidon. Bem. O feitiço foi transformá-la em monstro de cabelos de serpentes e olhar petrificante para quem lhe encarasse.
Sabendo dos perigos de enfrentá-la e ávido por aventura, Perseu foi em busca da cabeça da Medusa sob a ordem de seu rei. Pediu auxílio aos deuses e muniu-se dos artefatos adequados — como sandálias com asas, espada afiada, escudo de bronze e um capacete de Hades que torna quem usa invencível. Do pescoço ensanguentado da figura monstruosa nasceram o gigante Crisaor e o cavalo Pégaso. Perseu retornou empunhando a espada numa mão e a cabeça da Medusa n’outra. Utilizou-a, inclusive, para assombrar e empedrar diversos inimigos. Sua vitória é a façanha que o habilita a ocupar-se dos espaços da realeza e a casar-se com a princesa Andrômeda.

na astrologia
No céu, a estrela encontra-se na constelação de Perseu, a qual tem estreita relação com fenômenos climáticos extremos que causam prejuízos às civilizações. Para Ptolomeu, astrólogo tradicional fundamental, Algol é da natureza de Júpiter e de Saturno — isto é, maléfica E benéfica.
Tendo o mito como ponto de partida, o conto e a estrela narram histórias que levam ao pavor, mas também à cura e proteção, o enfrentamento à essa narrativa bestial, e o desejo ávido por justiça, nem que seja a partir de cabeças rolando. A covardia e a sobreposição à ela. Todo significado de estrela é preciso ser dado e compreendido através de todas as camadas que cada mito conta. Aqui, pode-se elevar as motivações de Perseu, à posição vulnerável da Medusa, a todas as circunstâncias que ambos foram submetidos…
Quero dizer, Algol quando visível (e ativada), pode denotar manifestação da Medusa, de Perseu, de Atena, de Poseidon, de Polidecto…
Ela anuncia as tramas e os dramas pelo poder (Saturno) e os modos da Justiça ser feita (Júpiter). Gera disputas, especialmente políticas e debates sobre poder, consentimento, desmesuras e violência (sexual, principalmente).
Medusa foi uma força violada, triplamente violada. Sua Nêmesis é a força vingadora de retaliação. É preciso voltar o olhar da górgona aos causadores dos martírios. Interessante refletir que seus cabelos são envenenados, portanto, ninguém a toca, nem a vê, já que seus olhos também são armas congeladoras d’outrem.
Simboliza a Justiça que soa como terrível, muitas vezes, aquela que pune quem tenta se equivaler aos deuses. A que distribui as forças do bem e do mal para que a segunda não arrebente o Mundo. É, no entanto e de todo modo, a Justiça dos homens. Das leis, ideológica, socialmente obediente, “fundamentalmente teatral”, como disse certa vez um professor. É uma estrela que se associa à luta contra qualquer tipo de abuso e opressão, especialmente de ordem sexual.
Inevitavelmente, ela abarca significadores quanto aos assuntos do feminino, à insubmissão, controle dos prazeres e corpos. Algol ainda remete a decapitações e enforcamentos, violação de templos e aos amuletos. Na Antiguidade, sua face monstruosa estampava as portas de algumas cidadelas e os escudos de guerra.
É, portanto, uma Estrela-Guardiã. Protetora. E quando ela aparece, no céu ou num mapa astrológico, sabemos que haverá sensibilidades, mas que, acima de tudo, ali há proteção.

a subjetividade de Algol
É uma estrela que traz muita angústia, assim como desejos de intensidade em tudo o que vive. Sentimentos de medo e raiva são comuns acompanharem quem nasce com ela na carta astrológica, na mesma medida em que a ânsia por liberdade é grande. Pode haver uma forte sensação de que tem algo grandioso a ser realizado nesta vida — e, muito provável, há mesmo — , o que gera uma inquietação espiritual atormentadora. Por isso, ela requer direcionamento dessas forças para a fértil energia criadora, e não ativando seu potencial (auto)destrutivo.
Desperta paixões avassaladoras, por vezes até perigosas; a sexualidade é um tema caríssimo, quando Algol aparece, ela não é um tabu hipócrita.
O olhar é profundo. O silêncio muitas vezes fala melhor que as palavras. O enfrentamento dos medos é o que trará as mais importantes vitórias.
figuras conhecidas que nasceram sob o signo de Algol no mapa astral
Sigmund Freud tinha Mercúrio-Algol. A elaboração sobre temas desta estrela é literal, até.
Pablo Picasso, Júpiter. Tratou profundamente da solidão, da morte e do sexo através da arte.
O filósofo existencialista Jean-Paul Sartre também carregava-a com Júpiter natal.
O ator Rodrigo Santoro, carrega-a no Ascendente, colada em seu corpo.
Donald Trump, alinhada ao Meio do Céu, ângulo que apresenta os feitos realizados.
marte em touro conjunto à algol (12 a 16 de julho de 2024)
Marte-Medusa desencadeia situações de violência e abuso (sobretudo contra mulheres), em especial daqueles que empunham armas ou lideram guerras (militares e bandidos, por exemplo). Desperta disputas políticas, vinganças e desmesuras. Sobretudo, traz ainda quedas de poderosos, ataques terroristas e graves eventos meteorológicos que prejudicam o cultivo da terra.
É um trânsito difícil, temeroso, pois há uma união de forças nocivas. Porém, que gera impactos muito mais relevantes a um contexto coletivo do que para as individualidades. E, ainda assim, em contextos/lugares específicos — como, por exemplo, em países da Ásia Menor; outro critérios que precisa ser considerado é o mapa do Ingresso Solar em Áries para cada nação. No Brasil, o ISA 2024 tem Capricórnio Ascendente, o que faz de Marte o regente dos assuntos relacionados às Casas 4 e 11 (Áries e Escorpião, em respectivo).
Há questões sensíveis no que tange os aliados do governo brasileiro (partidos, deputados e senadores ‘da base’), assim como problemas de clima que prejudicam a produtividade e/ou levam à destruição, agravamento de disputas de terras, ataques covardes contra os povos originários.
Observando as manchetes desta semana em que o evento celeste está partil (exato), podemos atribuir, por exemplo, a mais um ataque covarde em área humanitária em Gaza, ou, aqui no Brasil à denúncia de 3strupr0 feita pela participante do reality Casamento às Cegas, o fogo que já queimou o dobro do que queimou em 2023 (num mesmo período) na Amazônia… É válido, também, voltar os olhos para a França, pois o risco de ataques terroristas no período de Olimpíadas não é pequeno.
O mundo sempre foi assim, violento, terrível e injusto. Por isso, não há motivo para pânico. Caso se depare com avaliações demasiadamente catastróficas, não prossiga com a leitura/escuta se percerber ser muito agoniante. É uma conjunção catalisadora de eventos assombrosos dos quais não temos nenhum ou pouquíssimo controle. Não adianta nada, nada se apavorar ou perder o sono se o que é pra ser já é.
remediando
Sendo Algol estrela-guardiã, e da própria Justiça, seja a dos homens ou a divina, o lado da moeda que também há de ser dito é que a maldade, o ranço civilizatório, as vítimas, os ataques covardes, serão vingados. E quando Algol clama a Justiça Divina, ela é feita. Muitas vezes, pelas ordens humanas. No mais, as destruições precisam ser bússolas da transformação radical do status quo, é preciso temer a Natureza. Sejamos espertos (não acho que seremos).
Prevenção é o que vai bem. Em natividades, meu conselho é apenas para quem tem o Ascendente ou um astro [do Sol a Marte] entre 25 e 28 graus de Touro (não! nem mais, nem menos!): cuide-se e não se exponha ao risco. Evite manusear equipamentos perfurantes, produtos inflamáveis, fazer atividades e/ou direção perigosas, álcool em excesso. Não é o seu caso? Siga o baile.
No mais, menos temor, mais confiança na proteção daqueles que vão à frente removendo o mal.
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Patrícia Helena Dorileo - astróloga, reikiana e jornalista.
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