Vênus em Escorpião
- Patrícia Helena Dorileo
- 4 de mar.
- 2 min de leitura
“Era a ocasião de estar alegre. Mas pesava-me qualquer coisa, uma ânsia desconhecida, um desejo sem definição, nem até reles. Tardava-me, talvez, a sensação de estar vivo. E, quando me debrucei da janela altíssima, sobre a rua para onde olhei sem vê-la, senti-me de repente um daqueles trapos úmidos de limpar coisas sujas, que se levam para a janela para secar, mas se esquecem, enrodilhados, no parapeito que mancam lentamente.” – Fernando Pessoa, Livro do Desassossego
A Vênus chegou em Escorpião, onde se sente como neste trecho Pessoano. Vênus é responsável por estabelecer conexões íntimas, relacionar-se amorosa e eroticamente, fazer arte, cuidar do que dá sustento material. Vai deixando sua casa libriana para chegar no signo-lar de Marte, ferrenho e bélico. Em Escorpião está no exílio, onde há de observar bem, reparar, e reaprender suas funções.
Em Escorpião qualquer planeta age para sobreviver. Sendo Vênus, o outro é quase ameaça. Por isso, se esconde, desconfia, se perturba na presença que a surpreenderá – “vai que perco tudo isso? Jamais me perdoaria nem a ele”. Pense no bicho acuado: atento e forte.
Vênus sob comandos de Marte encara o amor como batalha. Quer dominar e comandar corações tomados por força, graça, sedução e direito. Após os processos de construção da confiança e concessão, o amor passa a ser imortal ainda que suma aos olhos.

É o mais impetuoso dos amores. Agarra-se ao ser amado, o toque é visceral, o encontro fundamental, a entrega absoluta. Neste momento já canta Chico, “quero ser a cicatriz risonha e corrosiva, marcada a frio, a ferro e fogo em carne viva”, pois em Escorpião até a dor das tatuagens é anestesia.
Ainda que voltemos a Pessoa, transfigura a anterior aflição em cura. É a exata consciência de um amor cujas medidas vão de medicina à veneno. Então, se torna território de profundeza emocional. Densifica-se para não correr o risco do medo de outrora materializar. Rende-se para sobreviver.
Desejo que você encontre nos seus afetos um lugar de magia. Que tenha ousadia de rejeitar o que te envenena ou encontre autopermissão para viver cada vírgula de experiência de uma relação. Coragem de ir o mais fundo possível.
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Patrícia Helena Dorileo - astróloga, reikiana e jornalista.
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