Peixes, o duplo-sensível

Há um lugar no zodíaco reservado à purificação. Onde tudo já passou, já foi agregado, virou uma coisa só, até meio desalinhado e nebuloso. Esse lugar é Peixes. Signo último da escala zodiacal, que encerra e integra. Purificação porque até aqui, estávamos sujos, em qualquer nível. Limpamo-nos. E agora vemos de modo diáfano. Ou melhor, sente tudo. Enquanto desbrava a imensidão das águas oceânicas, as ondas sensitivas são aguçadas.

Ilustração: Kate Stomber

Nada passa batido pelos Peixes, ele sente tudo. O que vê e o que não vê. Intui, pressente, vulnerabiliza, põe lentes de beleza e poesia em tudo o que cruzar seu caminho. Caminho, este, que pode ser ambíguo e bastante penetrável. Essas são qualidades que vêm do fato de ser um signo de água mutável. Já reparou que cada peixinhos adoram andar em cardume?

Júpiter quem governa essas águas, esse oceano inteiro, aplicando o raio da abundância, da difusão do pão, do bem, do amor. Fertiliza e multiplica. Uma correnteza de otimismo que pode verter em ilusões sonhadoras de quem debaixo d’água formula imagens incríveis nas bolhas e na refração - por isso dá queda a Mercúrio. O que é que não existe? Tudo em Peixes é muito e é encantado.Encantamento da imaginação, a qual não responde à lógica mercurial: o espanto é um fenômeno e o milagre, sempre possível. Encantamento do desfrute, visto ser onde a Vênus se exalta. Onde o amor é fluído, imenso, sentido e sonhado. “Há um lugar que nunca nascerá”, é aqui. Em Peixes agradecemos, somos gratos e damos graças. Devota-se ao amor universal. Que benção termos a oportunidade de navegar por Peixes.

“Uma vida inteira sendo eu, e ainda sou um mistério pra mim”, escreveu Clarice. Simboliza bem este signo duplo enigmático. Ser é um mistério, e “sonhar o impossível é vencer o inimigo invencível”.

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Patrícia Helena Dorileo, astróloga, reikiana e jornalista.