Mercúrio em Câncer, e a história contada

Mercúrio dá um tempo de suas viagens frenéticas e chega a um destino: o manguezal do caranguejo. Afoga-se em águas lamacentas que dificultam seu trânsito livre. É tudo muito silencioso, precisa ter atenção sensível por onde pisa e quais barulhos vem a fazer.

É aqui onde se reflete bem sobre tudo. Estava tudo ruidoso e caótico em demasia. Bom, agora o caos pode se manifestar no afluxo entre mente e emoção. Processos do coração são quase realocados para as sinapses cerebrais. Câncer é mudo, tal qual seus correspondentes das águas, só fala quando se sente em completa segurança, percebe a necessidade e a intuição aponta o ok. Mercúrio canceriano observa e sente. Depois pensa, raciocina e orienta. Pensa com o sentir. Fala com o olhar. Lê por telepatia.

Mercúrio que se debruça sobre as origens das palavras, ou, quem sabe, dos próprios pensamentos. Nessas, absorve-se em imaginação. Acredita que tais sentires tão vívidos sejam capazes de colaborar na criação de um mundo mais afável. Como na música do Cícero, “as canções de amor inventam o amor”.

Câncer é onde mora a memória e a raiz, pois é o signo da Lua. Mercúrio ali se perde em tantas lembranças. Rememora as histórias, gasta horas nos álbuns de fotografias, e nas ligações com vozes familiares, visita as casas onde já viveu, esse tipo de coisa. Sua família também tem o hábito de alimentar memórias? A minha tem e sinto saudade de sentar à mesa com frequência para conhecer histórias do passado das raízes e fazer as concatenações, ou ouvir a música que é escutá-los gastarem todo o vocabulário descrevendo cheiros, gostos, cores, semblantes e feições de um tempo passado.

Mercúrio-canceriano ainda nos ensina que é melhor abrir o jogo do que manipular cenários para ocultar incômodos retidos. Dispõe-se a resolver conflitos de ordem doméstica, de ordem ancestral, de ordem sentimental. Entenda por ‘resolver’, acessar e perceber. Tem amorosidade, é capaz de ouvir com atenção, relembra que o apaziguamento vale.

O afeto reveste Mercúrio. Assim, o caranguejo remansa as ideias e se expressa na delicadeza de palavras escolhidas ‘a pinças’ ou por outros meios que a linguagem ainda não alcança.

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Patrícia Helena Dorileo - astróloga, reikiana e jornalista.